domingo, 11 de novembro de 2012

Expressões populares


Do tempo da onça
A expressão é associada ao Sargento-Mor José Correia da Silva, chefe do policiamento militar no Recife (de 1787-1811), cujo apelido era Onça, por causa de sua coragem e comportamento violento. O apelido e a expressão também são associados ao governador do Rio de Janeiro Luís Vahia Monteiro, no período de 1725 a 1732. Este teria escrito ao rei D. João VI “Nesta terra todos roubam. Só eu não roubo”. A frase é usada quando nos referimos a um tempo ou práticas antigas e datadas.

Outros quinhentos
“Ah, isso já são outros quinhentos...” Essa frase é tão comum que parece uma gíria atual, mas sua origem conta mais de 500 anos... No século 13, na Península Ibérica, os fidalgos da elite que tivessem sofrido alguma injúria poderiam exigir a reparação do agressor em 500 soldos. Quem não pertencesse a essa hierarquia, deveria pedir apenas 300 soldos. Se houvesse uma nova agressão ou insulto verbal, uma nova multa deveriar ser cobrada. Ou seja: outros quinhentos. O sentido dado é algo como “uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa”.

Pentear macacos
“Vá pentear macacos!”. É o que se diz para alguém que está incomodando; como se fosse “vá chatear outra pessoa”. Trata-se da adaptação brasileira de um provérbio português que diz “mal grado haja a quem asno penteia”, cujo primeiro registro data de 1651. Nessa época, pentear ou escovar animais de carga, como burros e jumentos, não era uma tarefa bem vista, já que esse tipo de animal não precisava estar lustroso nem penteado para executar sua tarefa.

Casa da Mãe Joana
Joana (1326-1382) era rainha de Nápoles e condessa da Provença. Acusada de estar envolvida numa conspiração de assassinato de seu próprio marido Andrew, ela fugiu para Avignon (França). Lá, “colocou as manguinhas de fora” e resolveu mandar na cidade. Uma de suas ações foi regulamentar os bordéis, que ficaram conhecidos como “paços da Mãe Joana”. Aqui no Brasil, a expressão utilizada foi “casa da Mãe Joana”, ou seja: um lugar sem regras, desorganizado, onde todos têm liberdade para tudo.

Santo do pau oco
Pessoa que se faz de boazinha, mas no fundo não é nada boazinha. Nos séculos 18 e 19 os contrabandistas recheavam estátuas ocas de santos com ouro em pó, moedas e pedras preciosas. Os inofensivos esconderijos eram enviados para Portugal.

Sem eira nem beira
O indivíduo “sem eira nem beira”, é um pobretão sem posse nenhuma. Para começo de conversa: a eira é um terreno onde secam grãos ao ar livre; a beira é a beirada da eira que impede que o vento leve os grãos. No Nordeste brasileiro, a explicação é um tanto diferente. Antigamente, as casas dos ricos tinham um telhado triplo, composto de eira, beira e tribeira. Os pobres, sem condições de construírem tal estrutura, apenas faziam a tribeira, ficando “sem eira nem beira”.

Rabo entre as pernas
O sujeito que sai de um lugar com o rabo entre as pernas sai humilhado, de forma covarde. Aliás, a palavra covarde tem relação com o francês “coue” (atualmente “queue”), que quer dizer cauda, rabo ou rabudo. Resgata a imagem dos animais que baixam a cauda quando fogem.

Maria vai com as outras
Nome dado a pessoas que costumam mudar de opinião muito facilmente, conforme a opinião da maioria ou a conveniência. Câmara Cascudo explica a sua origem: “ Refere-se à sequência das 150 ave-marias no rosário, cada qual separada por um dos quinze padre-nossos. A uma Maria, seguem-se as demais.
Há uma outra história para explicar a origem desta expressão. Ela faz referência à Dona Maria I, rainha de Portugal no final do século 18. Conhecida como “A Piedosa”, por sua extrema devoção religiosa, e também com “A Louca”, por ter sido acometida por uma doença mental. Em razão da sua condição, vivia reclusa e só saía acompanhada de suas damas (“as outras” da frase).

Virar a casaca
Denomina o indivíduo que muda drasticamente de convicção. Como, por exemplo, o torcedor apaixonado de um time que, de repente, passa a torcer para outro. Mais uma vez, Câmara Cascudo elucida a frase: “Contam que Carlos Emanuel III de Savóia, (1701 - 1773), defendendo seu ameaçado patrimônio territorial, aliava-se aos franceses ou aos espanhóis, conforme a utilidade, usando alternadamente as cores nacionais desses países em sua casaca de gala”.

Dois bicudos não se beijam
Antigamente, no Nordeste brasileiro, bicudo era o valentão que carregava a sua inseparável bicuda, punhal ou faca afiada e longa. Dificilmente, dois valentões com bicudas iriam se dar bem por aí e, ainda mais, se beijar..

Expressões que você achava que conhecia

Todos devem conhecer a brincadeira do telefone sem fio, onde a primeira segreda no ouvido da outra uma frase qualquer. Daí essa vai fazer a mesma coisa com a seguinte e assim por diante. A graça é quando a última pessoa revela o que lhe foi passado ou o que ela entendeu. O resultado é sempre diferente da frase inicial e, muitas vezes, não faz sentido algum.
Muitos ditos populares ou provérbios sofreram do mesmo processo. As expressões que conhecemos parecem tão “normais” que nem desconfiamos que a forma original era um tanto quanto diferente...

Quem tem boca vai a Roma
Dá a entender que o sujeito que se comunica se vira bem em qualquer lugar, até em Roma. A frase original: “Quem tem boca vaia Roma”, do verbo vaiar mesmo.

Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão
O versinho, que aprendemos quando crianças, evoca uma imagem bonitinha de uma batatinha quase se esborrachando no chão.
A frase original: “Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão”. A rama é o conjunto de ramos de uma planta.

Cor de burro quando foge
Geralmente usamos a expressão para indicar uma cor indefinida, às vezes esdrúxula. A frase original: “Corro de burro quando foge”. O que, pensando bem, faz muito mais sentido, visto que os burros quando fogem apresentam a mesma cor de quando estão parados...

Cuspido e escarrado
“O seu filho é você, cuspido e escarrado”. A expressão, um tanto quanto escatológica, é usada quando queremos dizer que alguém é muito parecido com outra pessoa. A frase original: “Esculpido em carrara” (tipo de mármore da região italiana de Carrara). O significado revela que alguém parece tanto outra pessoa, que parece ter sido esculpida em mármore carrara. Pouco acostumada a esta palavra, a população associou-a à “escarrada”, enquanto o “esculpida” virou “cuspida”, o que parecia combinar bastante.

Fonte
E-Mail do meu ex-professor C****   Provavelmente via fonte
CASCUDO, Luis da Câmara. Superstições no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1985.
CASCUDO, Luis da Câmara. Locuções tradicionais no Brasil. São Paulo: Global, 2004.

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