domingo, 29 de setembro de 2013

Policiais impedem exibição de filme sobre garoto morto pela PM

Policiais impediram a exibição, em uma favela de Salvador, de um documentário sobre a morte de um garoto de dez anos numa operação da PM no local. O veto acontece em meio aos protestos contra o desaparecimento de Amarildo, o ajudante de pedreiro que sumiu após uma abordagem de PMs no Rio e se tornou símbolo em manifestações pelo país. A sessão aconteceria no Nordeste de Amaralina, favela que é cenário do filme "Menino Joel" e onde vivia o menino, no último sábado (3 ), durante o projeto social Cine Malóca.


Por volta das 19h, policiais da Base Comunitária da região, espécie de UPP local, aproximaram-se do retroprojetor e perguntaram o que iria passar numa das paredes do chamado Largo do Areial. "Quando descobriram, falaram que não poderia. 'Ah, a gente está aqui e isso seria uma afronta para a gente'. Os meninos do Malóca ainda tentaram negociar, mas os PMs disseram que incentivaria a comunidade a ficar contra eles", afirma uma dona de casa, 36, que pediu para não ser identificada com medo de represálias. Ela era uma das mais de 50 pessoas presentes no momento da confusão.

Após o caso, um coronel da PM, que tem boa relação com os moradores, chamou a atenção dos agentes para não mais interferirem no assunto.
A Polícia Militar da Bahia informou, por meio de sua assessoria, que vai apurar "os motivos pelos quais teria sido impedida a exibição do documentário". A corporação ainda disse que "garante a liberdade de expressão", ao tempo em que é "mantenedora da ordem, da lei e do estado democrático de direito".

A morte de Joel da Conceição Castro, na madrugada do dia 22 de novembro de 2010, chocou ainda mais porque o garoto havia estrelado, pouco antes, uma campanha publicitária do governo do Estado na gestão Jaques Wagner (PT).
Em meio à comoção do caso, nove integrantes da 40ª Companhia Independente da PM baiana foram afastados de suas funções na rua. Quase três anos depois, porém, o processo ainda está na fase das audiências de instrução. Ninguém foi punido.
Joel era filho do mestre de capoeira Mestre Ninha. No último dia 13 de junho, um primo de Joel foi morto durante uma abordagem de policiais da mesma companhia. Carlos Alberto Júnior, 21, deixou mulher e filha. Ele não tinha registros criminais.

Mãe dos dois organizadores do Cine Malóca, a assistente social Tania Palma, 45, também é ouvidora da Defensoria Pública no Nordeste de Amaralina e reclama de um "extermínio da juventude negra".
"Você está vendo aí o caso de Amarildo, na Rocinha. A gente quer apenas que as autoridades deem respostas e os culpados sejam duramente punidos, como qualquer um de nós é", afirma.
Dirigido pelo italiano Max Gaggino e produzido pelo baiano Rodrigo Cavalcanti, o documentário "Menino Joel" foi produzido em nove meses e hoje pode ser assistido no YouTube.

Fonte
Folha de SP

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