sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Mensalão Tucano e Petista
O ex-governador Eduardo Azeredo dificilmente se livrará de uma condenação, não por possíveis pressões que juízes venham a sofrer, mas porque há possibilidades de comprovação de envolvimento em um esquema que igualmente desviou dinheiro público para financiar sua campanha à reeleição em Minas Gerais.
Ao capitão do “laboratório” que forjou o similar federal, chefiado pelo ex-ministro condenado, José Dirceu, na feliz expressão do ex-procurador-geral da República, Antonio Fernando Silva, resta agora posar de rainha da Inglaterra.
O peessedebista já começou a esboçar sua defesa, que deverá ter suas alegações finais apresentadas nos próximos dias, com o surrado argumento “não sabia de nada”.
Pior seria se dissesse que o esquema de 1998 – também operado pelo publicitário Marcos Valério –, nunca existiu, como sempre insistiram em argumentar o ex-presidente Lula e o PT a respeito do esquema mais famoso e grandioso denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson, também condenado e o único ainda a não cumprir pena.
Rodrigo Janot, o atual procurador, pediu ao STF 22 anos de prisão a Azeredo – então presidente do PSDB à época em que o Brasil soube do maior crime de desvio de dinheiro público de que se tem notícia. Segundo Janot há provas “absolutamente suficientes” de que o ex-governador mineiro “participou decisivamente”, da operação que limpou (e branqueou) R$ 3,5 milhões (R$ 9,3 em valores atualizados) de duas empresas estatais (Cemig e Copasa) e do banco oficial Bemge.
Mesmo assim, o denunciante da República admite que o principal réu do mensalão mineiro nunca se pôs ostensivamente à frente do delito, estando sempre na retaguarda. Desta forma ele também se compara ao antecessor de Dilma Rousseff: se Lula não sabia o que acontecia, Eduardo Azeredo, anos antes, alega a mesma coisa.
Mas o ex-presidente não foi incluído na denúncia do mensalão – inclusive com a ajuda do PSDB, que não insistiu nas investigações quando o publicitário Duda Mendonça confessou o “caixa 2” na campanha presidencial de 2002. A elite tucana preferiu evitar ser taxada de “golpista” e apostou no “sangramento” de Lula.
Naturalmente, as proporções são bem diferentes. Na operação do PT, que começou com o desvio de verbas do Correios, o montante, os figurantes e a amplitude nacional, bem como o envolvimento da Presidência da República, pelo titular da Casa Civil, são bem mais expressivos. Porém, o mal maior não elimina o menor.
Na ação penal 536 relatada pelo ministro Luís Roberto Barroso, que encaminhará o parecer final ao plenário da Corte, não aparecerão os “nanicos” do mensalão mineiro. Clésio Andrade, do PMDB, companheiro de chapa de Azeredo em 1998, é réu na AP 606. Walfrido Mares Guia, então no PTB, vice-governador na gestão tucana – e depois duas vezes ministro na Era Lula –, se safou graças à lentidão do processo ao completar 70 anos em 2012. E o tesoureiro de Azeredo, Cláudio Mourão, em abril vai requerer a mesma alforria.
Ao PSDB resta fazer o oposto do que fez seu principal adversário da arena política nacional. Defendeu Eduardo Azeredo durante bom tempo, mas não há como usar do arrivismo e histerismo. Fazer campanha contra a imprensa e contra o STF não vai mesmo, porque não é do seu estilo. Usar a militância física e virtual muito menos, até porque não as possui.
Já jogou a toalha, se esta metáfora servir. Quer que o ex-governador de Minas evite mencionar o mensalão. E faz muito bem. Aécio Neves pode correr sua raia nas eleições deste ano, com todo o barulho que o caso de seu conterrâneo fará, com pouco prejuízo.
Se o mensalão não foi o Waterloo de Lula – ele não sangrou, se reelegeu e fez a sucessora –, e nem o será de Dilma, não será do PSDB igualmente. Mesmo porque não é poder.
E tem muito mais estofo e fundamento ético para aceitar que o desvio de um não é o da legenda inteira. Como o PT deveria ter feito, no que teria sido, até aqui, a sua maior contribuição à democracia brasileira.
Fonte
Voz da Rússia
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