sábado, 17 de maio de 2014
Chafurdando no lodo
A partir de hoje, pouco mais de 8 milhões de pessoas da região metropolitana de São Paulo terão suas residências abastecidas com água podre. Esta água podre, explique-se, é o tão comentado “volume morto” do Sistema Cantareira, ou seja, o lodo que se acumulou no fundo das represas desde quando este sistema foi construído, na década de 70. Geraldo Alckmin, claro, diz que esta água é perfeita. Inclusive, o tal “volume morto” agora é chamado pelo governo paulista de “reserva técnica”. Fácil assim, mudam-se as palavras e ressuscita-se o cadáver. São Paulo tem seu próprio Lázaro, devolvido à vida pelos técnicos da Sabesp.
O fato é que jamais alguém cogitou algum dia mexer no lodo do Sistema Cantareira. Nunca existiu a tal reserva técnica, eufemismo inventado por políticos demagogos para tentar maquiar a crônica falta de planejamento urbano e a crença de que os recursos naturais são inesgotáveis. Não são, sabemos, mas parece que nunca nos convencemos disto.
Lázaro, entretanto, tem também seus dias contados, e não sobreviverá para além de alguns meses, além de custar caro. Afinal, todo cadáver fede e precisa ser tratado. Por isso o governo paulista implora à população que economize água, que faça xixi no banho, que feche a torneira ao escovar os dentes. Mas sabemos, o problema é muito mais complexo.
Na realidade a maior parte da água consumida pelo ser humano não é esta do uso doméstico. Deixar de puxar a descarga ou reduzir o tempo de banho, por exemplo, apesar de importantes sob o aspecto da consciência ecológica, são gestos que praticamente não farão diferença no consumo total de água.
É na agricultura, na pecuária e nas atividades industriais que o caldo entorna. Tudo que existe necessita de água para ser produzido. Para cada quilo de aço fabricado, foram gastos 600 litros de água.
Quando você vai ao restaurante e come 300 gramas de bife, você consumiu junto 4,5 mil litros de água virtual, que é esta gasta na cadeia produtiva deste pequeno pedaço de carne. Portanto, meu amigo, minha amiga, quer economizar água de verdade? Faça seu xixi na privada, mas não desperdice a carne de boi em seu prato.
A crise de abastecimento no Sistema Cantareira serve de alerta para todos nós. Além de repensarmos nossa relação com rios e lençóis freáticos, precisamos urgentemente modificar nossos hábitos de consumo, reduzindo desperdícios, produzindo menos lixo e repensando necessidades.
Caso contrário, terminaremos todos, literalmente, por chafurdar no lodo, enquanto lodo ainda houver.
Um bom texto sobre a atual situação que vivemos em São Paulo,ainda não chegamos a o ponto de "faltar"teoricamente ,mas aqui em casa por exemplo não tem água a 3 dias,moro em um lugar alto e a água não estar com pressão suficiente para chegar até a caixa de água.
Fonte
Jornal de Santa Catarina
Viegas Fernandes da Costa
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