Uma pesquisa feita entre chineses que moram em Pequim aponta um crescente aumento da infelicidade entre os moradores da segunda cidade mais rica do país.
Feito desde 2006, o estudo da Universidade Capital de Economia e Negócios indica que o percentual de habitantes infelizes na cidade cresce a cada ano, passando de 24,99% em 2006 para 27,72% no ano passado.
Analistas avaliam que o mesmo sucesso econômico que dá a Pequim indicadores como o segundo maior PIB per capita da China (equivalente a R$ 22.227 por habitante) traz uma série de consequências negativas para a vida na capital.
"As mudanças trazidas pelo renascimento econômico do país privilegiam certas classes apenas, mas todos os moradores têm de lidar com seus impactos negativos, como o trânsito ruim", disse à BBC Brasil o sociólogo Zheng Denghao, da Universidade do Povo.
Dentre as principais causas de descontentamento apontadas pela pesquisa, estão a crescente divisão entre ricos e pobres, salários baixos, inflação e poluição.
"O preço dos alimentos e de moradia estão subindo muito, o que faz de Pequim uma cidade difícil para se viver", afirma Liu Hua, 46 anos. Liu mora na cidade há 16 anos, onde mantém um armazém há mais de seis anos.
A poluição figura como um dos principais motivos pelo descontentamento na cidade, tendo sido indicado por quase 64% dos entrevistados como fator que contribui para a infelicidade.
Na semana passada, a agência de meteorologia de Pequim informou que a qualidade do ar na capital passara a ser considerada "perigosa", com uma concentração de 500 microgramas de partículas de 2,5 micrômetros de tamanho por metro cúbico de ar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera as concentrações acima de 100 microgramas de partículas por metro cúbico como perigosas à saúde.
"A qualidade do ar está cada vez pior, parece que vivemos dentro de uma chaminé", diz Peng Xue, 56 anos, natural de Pequim. "Eu passo dias tossindo e, às vezes, fico enjoado com o cheiro do ar."
A tendência não parece ser um fenômeno exclusivo de Pequim, como aponta o Índice de Qualidade de Vida da China Urbana, estudo realizado pela Universidade Capital e a Academia Chinesa de Ciências Sociais.
Segundo o índice, publicado em junho de 2011, o percentual de satisfação da população da China é de 54,49%. Os indicadores relevantes na pesquisa são salários, custo de vida, serviços médicos, qualidade do meio ambiente e ritmo de vida.
Pequim está na oitava posição no ranking, com uma média de 56,23%.
Segundo o reitor da Universidade Capital, Zhang Liancheng, o boom econômico do país trouxe riqueza muito rapidamente para diversos chineses, enquanto migrantes e a classe média sofrem com o difícil acesso a salários mais altos.
"A bolha imobiliária e a alta dos preços são motivo de grande descontentamento em Pequim, em especial entre os jovens recém-formados prestes a casar, que não conseguem adquirir um imóvel", afirma Zheng.
Sun Lingsheng, 29 anos, nasceu e cresceu em Pequim. Há quatro anos, ele trabalha como engenheiro na China Mobile, uma das maiores operadoras de telefonia celular do país.
"Tive sorte em conseguir o meu trabalho, pois há tantos estudantes em Pequim, jovens recém-formados, que muitos têm de deixar a cidade em troca de um emprego."
Noivo há sete anos de Hua Deming, Sun ainda não conseguiu adquirir seu imóvel próprio.
"Venho de uma família de classe média, e tenho um bom emprego. Ainda assim, o preço das casas é, para mim, inviável", afirma.
"Nenhum jovem nascido e criado em Pequim desgosta da cidade em si. Mas a vida está cada vez mais difícil aqui", diz a noiva do engenheiro.
Ainda que o acesso a serviços tenha melhorado, o número de moradores da cidade também é causa de descontentamento.
Os descontentes, no entanto, não são apenas os menos favorecidos pela reforma econômica.
Relatório divulgado em novembro de 2011 pelo Instituto Hurun e o Banco da China apontam que metade dos milionários chineses querem deixar o país. Entre a população mais rica, 14% já deram entrada em processos de emigração.
O motivo indicado pelos empresários entrevistados na pesquisa é a busca por mais segurança de seus capitais e de vida, além de opções melhores de educação para seus filhos.
Fonte;
BBC Brasil
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